segunda-feira, 4 de março de 2013

Aquecimento global coloca em risco produtividade do milho


Estudo avaliou que devido ao aumento do número de dias com temperaturas acima de 32°C a cultura está perdendo produtividade, e destaca que é preciso levar a sério a ameaça das mudanças climáticas para a agricultura

Os impactos das mudanças climáticas nas diversas culturas agrícolas ainda não são completamente entendidos, mas cada vez mais pesquisadores estão estudando o assunto que é de suma importância para a segurança alimentar mundial no futuro.

Um dos mais recentes estudos nessa área foi publicado nesta semana no periódico Global Change Biology e avaliou a cultura do milho na França desde 1960 e projetou como ela se desenvolverá até 2030 em um mundo sob o aquecimento global.

Segundo o trabalho, que de acordo com seus autores pode ser extrapolado e utilizado como um alerta para outras regiões do planeta, quando a temperatura sobe para acima de 32°C, o milho sofre o chamado estresse de calor e não cresce como deveria. 

Na região da França avaliada, o número de dias que ultrapassavam os 32°C na década de 1960 costumava ser de três, atualmente é de cinco e, se os modelos climáticos estiverem corretos, nas próximas décadas poderá passar de quinze.

“Este é um grande risco para a segurança alimentar. A produção agrícola quadruplicou desde 1960, graças a melhores tecnologias como pesticidas e fertilizantes, mas a velocidade com a qual a produtividade cresce tem ficado menor nas últimas décadas e na taxa presente pode não ser suficiente para manter os níveis de produção atuais”, afirmou Ed Hawkins, do Centro Nacional de Ciência Atmosférica da Universidade de Reading e principal autor do estudo.

A equipe de Hawkins descobriu que enquanto a variação de chuva pode ser amenizada com a irrigação, pouco ainda é feito para lidar com as temperaturas extremas. Por exemplo, durante a onda de calor de 2003, a produção francesa de milho caiu cerca de 20% em relação ao ano anterior.

Avaliando os dados levantados, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a produtividade por acre deveria ser elevada em até 12% entre 2016 e 2035 apenas para manter os níveis atuais da safra de milho.

“Esse 12% de incremento é necessário no pior cenário que projetamos. Se as temperaturas não subirem tanto nas próximas décadas, pode ser que consigamos manter a safra presente com um aumento menor de produtividade”, declarou Hawkins.

A situação com certeza varia para outros países, mas segundo os pesquisadores a conclusão básica é similar. Os agricultores terão que se preparar para a maior frequência de dias quentes. “Os modelos climáticos apontam com relativa confiança que veremos uma alta nas temperaturas por todo o mundo, graças ao crescimento contínuo das emissões de gases do efeito estufa”, explicou o pesquisador.

O estudo também destaca que o problema se agrava quando fica claro que as medidas mais básicas para elevar a produtividade já foram tomadas no passado, como maior uso de máquinas e melhores fertilizantes, e que agora qualquer avanço tende a ser bem mais caro e difícil de ser conseguido.

Os pesquisadores reconhecem que diferentes culturas possuem tolerâncias próprias para o calor, mas que todas elas apresentam um máximo de temperatura para que sejam produtivas. Técnicas como modificação genética e uma maior seleção de sementes podem minimizar a situação, mas ainda não se sabe até que ponto essas tecnologias podem avançar. 

“Se as mudanças climáticas continuarem a ser ignoradas, agricultores poderão ser obrigados a trocar totalmente para culturas que atualmente estão restritas apenas às partes mais quentes do planeta”, afirmou Hawkins.

Os impactos das mudanças climáticas na agricultura já chamaram a atenção de alguns governos. No começo deste ano o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) publicou um relatório afirmando que o aumento do dióxido de carbono na atmosfera, o aumento das temperaturas e a alteração na precipitação afetarão a produtividade das colheitas, já que podem mudar seus padrões de crescimento e amadurecimento.

O documento apontou que, só para controlar o crescimento das ervas daninhas, que se desenvolvem mais à medida que a temperatura aumenta, os investimentos na agricultura para esse fim terão que subir para US$ 11 bilhões anuais.

A própria ONU alerta com frequência para a ligação entre o aquecimento global e a segurança alimentar. 

Já em 2011, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) lançou o relatório “Mudança Climática, Água e Segurança Alimentar”, que recomenda a adoção de sistemas agroflorestais para ajudar a reduzir temperaturas e evaporação, além de ampliarem a retenção da água e a conservação do solo.

A questão é tão séria que a ONU está tentando classificar as mudanças climáticas como uma questão de segurança internacional a pedido de pequenas nações insulares e muitos países africanos. A justificativa é que por causa da queda na produção de alimentos vários conflitos civis já estão acontecendo.

A classificação não avançou devido à obstrução de China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que temem ter seu crescimento econômico afetado por possíveis leis que obriguem a redução nas emissões de gases do efeito estufa.



Fonte: http://www.institutocarbonobrasil.org.br

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