sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Embrapa busca clonagem inédita de animais ameaçados no Brasil

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) planeja trabalhar na clonagem de espécies ameaçadas de extinção no Brasil, como lobo-guará, onça-pintada e veado-catingueiro.
O projeto ainda depende da aprovação do departamento jurídico da Embrapa e não tem prazo de conclusão. Mas, se bem-sucedido, pode resultar na primeira clonagem de um animal silvestre no país.
A iniciativa é feita em parceria com o Jardim Zoológico de Brasília, que será o destino final dos animais clonados.
“Há dois anos, coletamos material genético de animais mortos (na região do Cerrado), em acidentes rodoviários ou em zoológico”, explicou à BBC Brasil o pesquisador do Embrapa Carlos Frederico Martins.
“Agora, surgiu a ideia de uma nova parceria, ainda não pronta, de coletar material não apenas do Cerrado, mas também de animais vivos de outros biomas e faunas exóticas para inseminação artificial e clonagem.”
Uma das técnicas a ser usadas é a semelhante à da ovelha Dolly. “Trata-se da técnica de transferência de núcleos. Retiramos o núcleo do ovócito (célula que dá origem ao óvulo) e o substituímos pela célula do indivíduo a ser clonado, do qual temos material genético”, diz o pesquisador, que é médico veterinário com mestrado em reprodução animal.
Experiência com bovinos – A Embrapa tem um banco de 420 amostras de oito espécies de animais. Concluída a aprovação em seu departamento jurídico, ainda buscará o aval do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) para usá-las.
Martins não arrisca estabelecer um prazo para concluir a primeira clonagem, mas prevê anos de pesquisa.
“Já temos a tecnologia para fazer a clonagem de bovinos. Agora, queremos transferi-la para a clonagem de animais silvestres, estudando-a em bichos em que ela nunca foi usada”, prossegue.
“Mas, mesmo em bovinos, é uma técnica ainda ineficiente às vezes, então temos que ir devagar. Conhecemos pouco (da aplicação desses métodos) em espécies selvagens, então, isso pode demorar um pouco.”
Serão estudadas espécies que não necessariamente correm risco iminente de extinção, mas cuja população tem diminuído. Futuros animais clonados seriam mantidos no zoológico, onde seriam estudados e usados para reposição natural dos bichos que morrerem.
Segundo o pesquisador, os indivíduos clonados não estariam aptos a viver na natureza selvagem, e a Embrapa não teria como monitorá-los.
O Jardim Zoológico de Brasília, por sua vez, criará um laboratório para dar prosseguimento aos estudos da Embrapa. Ambas as instituições captarão recursos para o projeto, mas Martins ainda não sabe estimar quanto custará todo o processo.
Atenção internacional – O projeto brasileiro despertou atenção internacional. A versão online da revista especializada “New Scientist” noticiou a iniciativa e citou a primeira clonagem da Embrapa, em 2001 – uma vaca batizada de Vitória, que morreu no ano passado –, e os cem animais clonados desde então, principalmente bovinos e equinos.
O jornal britânico “The Guardian” destacou que muitos conservacionistas veem com reservas a iniciativa de clonar animais ameaçados, temendo que isso desvie o foco da preocupação principal: proteger o habitat desses animais.
Segundo Martins, o projeto da Embrapa não pretende se tornar a principal ferramenta de conservação das espécies e lembra que a clonagem diminui a variedade genética do reino animal.
“É algo complementar (aos esforços de conservação) de matas, rios e reservas. Nosso objetivo principal é estudar a técnica, ver como ela se comporta e se é possível produzir animais do nosso bioma para quando precisarmos.”

Lobo-guará (Foto: Ltshears/Wiki Commons)     
Lobo-guará está entre os animais que a Embrapa pretende clonar


Onça pintada, em foto de Fábio Grison/Wiki Commons
Pesquisador diz que efeito da técnica de clonagem ainda é desconhecido em animais silvestres brasileiros


Fonte: BBC Brasil (http://www.bbc.co.uk/)

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