terça-feira, 16 de abril de 2013

Inovação para um desenvolvimento sustentável.

Genebra, Suíça, 15/4/2013 – A inovação, como fruto da ciência e da tecnologia, desempenhará um papel primordial nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se espera entrarão em vigor em 2015, afirmou Néstor Osorio, presidente do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU). A Assembleia Geral da ONU receberá em sua próxima sessão, a partir de setembro, o primeiro rascunho dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que está sendo elaborado com contribuições de Estados, cientistas e organizações sociais.
Da preparação do projeto participa também um órgão estratégico das Nações Unidas que é o seu Conselho Econômico e Social (Ecosoc), que discutirá a questão em sua avaliação ministerial anual, a ser realizada em julho em Genebra. Os ODS substituirão, se forem aprovados, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos em 2000 em Nova York e com prazo de cumprimento até 2015.
Tomando como referência os indicadores de 1990, os governos se comprometeram a reduzir a indigência e a fome, a mortalidade infantil e materna, combater enfermidades como a tuberculose e outras, universalizar o ensino, promover a igualdade de sexos e o empoderamento da mulher, garantir a sustentabilidade do meio ambiente e fomentar uma aliança mundial para o desenvolvimento.
Osorio, representante permanente da Colômbia nas Nações Unidas, explicou alguns aspectos em exame na entrevista concedida à IPS durante uma visita a Genebra na semana passada.
IPS: O senhor entende que a inovação deve ser um dos objetivos para este milênio?
NÉSTOR OSORIO: Creio que é parte transversal de muitos dos objetivos que entrarão em um período complementar a partir de 2015. Estamos falando dos ODS, isto é, como fazer algo além dos ODM e integrar países industrializados e em desenvolvimento no cumprimento permanente e irreversível de metas fundamentais para a sustentabilidade integral.
IPS: Em outras palavras…
NO: Estamos falando de conservação de águas, de cidades mais visíveis, da segurança alimentar, da infraestrutura e do controle da emissão de gases contaminantes. É preciso descarbonizar o planeta. E tudo isto faz parte da inovação.
IPS: Quais seriam os atores desta tarefa?
NO: Quem pode participar de uma forma muito eficiente, como temos visto, é a juventude. Os jovens estão e sempre estiveram na origem das maiores inovações. Microsoft, Facebook e outras, foram criadas, inovadas, por rapazes de 20 a 25 anos. Então aqui há um vínculo muito importante: como a inovação e a conexão e preparação de trabalhos do futuro seguem juntas. E se estamos falando de igualdade de gênero, estamos falando do mesmo, ou seja, é um tema transversal em geral.
IPS: Como os países em desenvolvimento poderiam fomentar a inovação?
NO: Creio que com um compromisso fundamental dos governos, que se traduza em destinações orçamentárias. Também é fundamental a associação entre governo e setor privado em todo este processo. Vou citar um exemplo do que fizemos na Colômbia: a política do presidente Juan Manuel Santos era a de destinar – foi aprovada uma lei nesse sentido – uma porção do lucro do petróleo e da mineração ao Instituto de Ciências e Tecnologia.
IPS: E com relação ao setor privado?
NO: A empresa vai descobrindo quais as suas necessidades e como tem que se adaptar às exigências da sustentabilidade. Não pode haver investimento em projetos que utilizem grande quantidade de água, porque é um desperdício. As companhias precisam se adaptar às exigências que o mundo vai apresentando.
IPS: E quanto ao Estado?
NO: O setor público deve ter consciência da importância que a ciência, a tecnologia, a cultura e o que vem atrás em termos de inovação pode significar para todo o desenvolvimento da sociedade. Para melhorar sua infraestrutura, suas cidades, seu transporte, para fazer com que o homem e a mulher tenham maior bem-estar. Por isso é muito importante que se traduza em instrumentos jurídicos, em destinações orçamentárias e em planos de governo.
IPS: O que se pode esperar das sessões do Ecosoc em julho próximo?
NO: O debate no Segmento de Alto Nível, como se denomina, será a culminação da reunião ministerial. Assim, ciência, tecnologia e cultura são os temas do ano para o Ecosoc. Além disso, se tratará da questão financeira. A situação econômica do mundo industrializado é muito séria porque tem consequências, o que chamo de “dano colateral”, pois ao diminuir a renda e as condições econômicas desses países há menos dinheiro para o financiamento do desenvolvimento e menor propensão à transferência de tecnologia. Espero que das sessões de julho saiam algumas recomendações políticas muito concretas.
IPS: Qual é o clima que antecede o encontro?
NO: Acabo de passar duas semanas na Tanzânia com todos os ministros africanos e vejo com surpresa que há uma consciência e um interesse real em dar à ciência e à tecnologia um lugar predominante nas prioridades dos governos.
IPS: Tem um panorama da inovação nos países em desenvolvimento?
NO: No setor agrícola se fez grandes avanços para aumentar a produtividade e lutar contra pestes e pragas. Isto já é comum no café, cacau e nos cereais. A pesquisa na Índia para aumentar a produtividade de grãos e garantir a segurança alimentar tem sido extraordinária. No Brasil, as novas tecnologias de cultivo de café, com plantações de cem hectares com irrigação e fertilização permanente, multiplicaram por 30 ou 40 vezes a produtividade.
IPS: E quanto a inovações com efeitos ambientais?
NO: Também, sobretudo em diferentes áreas da agricultura, com melhoramento de condições rurais. Por exemplo, uma inovação concreta é aproveitar uma pequena queda de água para produzir energia. Vi como são idealizadas pequenas turbinas que conseguem utilizar uma queda d’água de apenas um metro para iluminar a casa de um camponês. Não é astronáutica nem a ciência do Cern (a organização europeia de pesquisa nuclear), mas coisas simples. Trata-se de idealizar máquinas que não desperdicem água. Por exemplo, na Colômbia foi desenvolvida uma tiradora de polpa de café que pega o fruto central e o trata com o uso de uma quantidade mínima de água, que depois é reciclada e não contaminante. Envolverde/IPS

(IPS)

Fonte: Envolverde

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